Dia frio, tarde chuvosa,
solidão batendo à porta...
Cachecol enrolado no pescoço.
Pés descalços.
Janela de vidros fechados
porém a cortina de renda
deixa exposto o corpo
e apenas um cachecol
e apenas um cachecol
caído até os joelhos.
Ora cobria o umbigo
ora um seio, ora o meio.
Ela de pernas entreaberta
entretida
seu livro lia.
Ria, por vezes chorava;
era como se o texto sua emoção regesse.
Estar só era bom,
pois sem cuidados as pernas
mexia.
Quando só sentia-se, pela janela
o olhar comprido dirigia
e por instantes se perdia,
mas logo de volta a leitura o olhar dela recebia.
Não sabia a moça vestida só de cachecol e melancolia
que ali logo a sua frente
pela mesma janela
outros olhos era a ela que lia.
Deleitava-se com sem modos de mover,
deliciava-se com a nudez
e com o descuidado com que
entre pernas movia.
e com o descuidado com que
entre pernas movia.
Era verde o cachecol, disso certeza tinha.
Os cabelos negros reluziam em contraste
a pele certamente macia.
Mesmo sozinha, percebia ele que algo sozinha dizia.
Achou a boca bonita, se perto na certa a beijaria.
A claridade de dentro deixava que mais o ser da moça visse;
viu-lhe o contorno dos seios
dos bicos a cor o seduzia.
Cada um de sua janela
seu momento viveu,
seu momento viveu,
ela completamente envolvida no que lia,
ele suas vontades com a imaginação satisfazia.
Até que a noite sorrateiramente entrou.
Ele de cansaço dormiu...
Ela mais no cachecol se emaranhou e
num cobertor se aqueceu.
Dessa forma em sintonia,
cada em se guardou no mundo que escolheu;
sem do outro a intenção saber.
Trocando impressões
de janela a janela
o mundo é visto assim:
Uns olham e nada veem;
enquanto outros
o prazer da vista tem.
CatiahoAlc./Reflexod'Alma